Afinal, pobres deveriam ter filhos? Esse é um debate que apareceu muito aqui para mim nas últimas semanas. A discussão gera em torno de pessoas que são pobres financeiramente e incapazes de oferecer condições dignas para o sustento de seus filhos. Muitas pessoas opinam que viver com o básico não é viver e que por isso pobres deveriam ser conscientes e não gerar pessoas para sofrer. Tema polêmico né? Por outro lado pessoas apareceram de forma contrária trazendo o contraponto da eugenia e defendendo o combate à pobreza e não a hostilização do pobre, afinal todos deveriam ter direito a construir uma família.
Esse é um debate importante que envolve muitas questões psicológicas e emocionais.
Ter um filho, casar e construir uma família é um ideal construído que está presente na vida de muitas pessoas, e como um sonho de realização pessoal. Como psicóloga e apaixonada por filosofia eu entendo que os dois lados desse debates trazem posições coerentes, mas ambas são extremistas. Sim, pobre ou não temos o direito de escolher o que fazer com nossas vidas e isso inclui a decisão de querer ter filhos ou não, mas também é verdade que precisamos ser responsáveis por nossas decisões. Em um sistema capitalista como o nosso é importante saber que o dinheiro é necessário e isso não vai mudar, pelo menos não tão cedo. O preço do capitalismo é a desigualdade, sendo isso justo ou não a verdade é que uns terão muito enquanto outros não terão pouco ou quase nada… a história se estabelece assim e o resultado é que quem não nasceu herdeiro terá que lutar para conseguir quebrar todas as barreiras sociais que invariavelmente irá enfrentar. Tendo isso esclarecido, vamos ao tema do debate, ter filhos nesse mundo capitalista cruel e uma decisão inteligente? definitivamente não, além de não ser inteligente e extremamente egoísta. Vamos ser pragmáticos, filhos demandam tempo, dinheiro, dedicação e geram muitas frustrações. A maioria dos pais idealizam seus filhos: Eles imaginam traços físicos, profissão, a personalidade.. uma família unida típico daquela fotografia da margarina … não é difícil imaginar que a maioria das vezes esse desejo não é realizado né? O egoísmo que permeia as relações parentais é o ponto mais preocupante, muitos pais querem filhos para ter alguém para amar e ser amado, alguém a quem recorrer na velhice, ver seus sonhos serem realizados e a oportunidade de tentar outra vez… o que é isso tudo se não egoísmo? Ninguém pede para nascer e ter um filho com a expectativa de se auto realizar e extremamente egoísta. A demanda financeira nem se fala, embora alguns acreditem que sim, filhos nao sao investimento ok? O dinheiro que seu filho faz é dele e não seu… por isso não conte com gratidão no futuro. Dito isso, ter um filho sem ter condições financeiras é sim uma decisão, burra, egoísta e extremamente imatura. Mas eu estendo esse debate a outras classes sociais também, que muitas vezes não tem condições psicológicas para ter filhos e os tem… o resultado é tão catastrófico quanto ter filhos sem condições financeiras.
O que quem fomenta esse tipo de discussão precisa entender é que a escolha de ter filhos está muito mais relacionada a aspectos culturais e emocionais do que a simples racionalidade prática que vocês tentando incitar, ter filhos por si só deveria ter algo a se refletir, com ou sem dinheiro especialmente nos tempos de hoje mas os seres humanos são carregados de desejos emocionais e nao vai ser possível mudar isso tão facilmente assim como não seremos capazes de mudar a realidade econômica da maioria. Sigam debatendo esse tema, mas com a tentativa de desmistificar o ideal imaginário construído pelo desejo da família tradicional. Tenham seus filhos, mas mantenham o pé no chão sabendo que vocês podem não ter ajuda, gratidão, respeito, amor, consideração. Pode haver, raiva, rebeldia, traumas, solidão, abandono e milhares de outras situações completamente diferente do que vocês imaginaram a vida é assim. E você pode decidir fazer mais vítimas da vida ou encerrar o ciclo em você, essa é a única escolha que te cabe.